sábado, 19 de abril de 2014

onde está a maria do carmo? a maria do carmo foi de férias com as amigas, consegues encontrar a maria do carmo?

num cansaço bom e também tu cansado choroso de alívio e com a cabeça muito leve, o corpo morno e as mãos suadas a apontar a luz do candeeiro olho semi-fechado barba perfeita. nem mais nem menos. aquilo era o que se sabia. aquilo era o depois de nadar muito no mar gelado e ficar deitados na sombra quente à espera de esvaziar e uma brisa que ninguém percebia mas que não dava gosto perceber. embaceia tudo menos os olhos o mar continua na lenga lenga calma de séculos. os outros ganham valor nesta altura e nós perdemos e os outros vão dando e nós ganhamos e os outros também. maria do carmo pergunta ao espelho porque se esforça tanto pela serenidade se depois de estar ali duas horas a trabalhar finalmente isto porque conseguiu e saiu da confusão dos homens todos por quem luta a lutar por ela se estraga o carregador e o trabalho morre num flash rápido absorvido pelo ecrã. chora muito de frustrada que está corre para a cozinha só para bater com o carregador no chão muititantíssimas vezes com os dentes a ver-se. maria do carmo está na cama envergonhada. pés na parede fria tapa os olhos e tem a testa franzida. la ressaca emocional. quem visse maria do carmo em casa aos saltos sempre aos saltos sempre aos saltos e quando ele entra ai e quando pensa na tamanha estupidez do cérebro dele ai e quando as gajas a chateiam e ela ri e salta e diz que são boas gajas para entreter e que a deviam ter chateado antes para o alívio ou seja antes de ele entrar e de se terem chateado mais uma vez como de resto se chateiam sempre. não há nada a fazer sobre esta relação que tantas vezes é assim chamada sem existir. um dia vinha no carro com o meu pai que é uma coisa que me acalma ir no carro com a janela meio aberta ao lado do meu pai a pensar embalada numa força que sugo com amor e carinho enquanto o meu nome me passava pela cabeça e pela cabeça passava eu a gritar o meu nome e passava eu a pensar num senhor que tinha dito à minha avó que o meu nome era o nome mais lindo que há. imaginava o senhor a dizer o nome e a dizer que o nome era o nome mais lindo que há. de repente penso em mim e puff não tinha nome. como já não tinha assunto nenhum para falar com o vasco resolvi propôr-lhe chamar-lhe frederico para experiências literárias. aceitou. perguntou. respondi e aceitou. depois aquilo começou a frustrar-me imenso porque antes de tudo isto havia uma rapariga na primária que não gostava de mim e então dizia sempre o meu nome: entããão veróóniicaa! tás boa?: a resolução que tirei disto foi que dizer o nome era uma coisa de quem tinha sentimentos fortes. ele quase nunca dizia o meu nome nem o nome que inventei e aquilo frustrou-me a confiança e ardi ali. agora és vasco para sempre. isto é agora és coisa nenhuma. mil pensamentos sobre o meu aniversário e penso se vale mesmo a pena o trabalho só porque acho que vou estar muito bonita. provavelmente não. mas quando é que eu terei outra oportunidade de me fingir de bêbeda tão convincentemente para finalmente eu e ele deixarmos de discutir e resolvermos tudo isto que não passa de uma relação com o nome de relação e por isso coisa nenhuma em bruto. outras oportunidades para estar bêbeda não será bem assim. outras oportunidades para estar bêbeda bonita e ter aquele lindo ar de feto que deixa os outros escravos da minha vontade. só para o ano. se isto estiver tão dramático como está hoje para o ano posso bem esquecer. esquecer pensar na hipótese de dúvidar em relação a uma assumpção bem dita. até lá vou vendo filmes e lendo livros com os poros todos abertos a la recolha e inventariação de une bonne proposta irrecusável que não é coisa de mulher fazer declaração de amor. penso nisto e penso que devia militar mais o feminismo. depois penso que quem vai às convenções é o outro triste que pré-vende as coisas como quem pré-vende laranjas à beira-da-estrada comparação justa porque a haver uma laranjeira à beira-da-estrada era ele que é mais laranjeira do que poeta quantas vezes. pai hoje consegui não ter um ataque de pânico. ele passou por mim e sorriu como diz a outra. nisto penso na maria do carmo e se hei de pegar nela ao colo e embalá-la com o meu corpo de gigante e a maria do carmo tão envergonhada e com a cabeça tonta a vibrar. vê-se a cabeça da maria do carmo a vibrar se estivermos longe. depois penso na obsessão que tinha há dias de fazer as coisas desaparecer na escrita como se faz nos filmes. uma coisa assim: ia a joana a andar a andar a andar e as flores ali estavam e a joana a andar a andar a andar a andar a andar a andar a andar a andar a andar a andar e nisto o leitor esquecia-se da joana. depois de mil pastas de escrever compradas com o título ensaios de desaparecimento I, II, III, IV, V e etc. esqueci-me disso até que li Balzac e pensei o gajo faz aparecer e eu talvez não saiba e então como estamos e o queque é melhor. Hoje descobri como fazer desaparecer.

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