domingo, 13 de abril de 2014

carta astral do trauma injustificada por tanto ser descritiva (deve ler-se muito devagar frase por frase em compasso quaternário para suspense e previsibilidade casamentos dois do trauma pois que é universal e nunca foi planetariado como se sabe   em relação à leitura dos parênteses pede-se ao admirável leitor apenas um pouco de senso óptimo)

o trauma
tem o sol
num buraco lunar
        (em que é de noite quaise sempre)
o trauma
tem a lua
ensimesmada
o trauma
tem mercúrio
nos quarenta
       (que é dizer com sarampo)
o trauma
tem venas
salientes nas pernas
               (venas tipo varizes)
o trauma
tem terra
ao vento e no triângulo das bermudas
o trauma
tem mártires
muitos
o trauma
tem de Júpiter
só o filho anão e mesmo assim mal lhe cabe no coração
                                                                            (que é onde o tem o trauma)
o trauma
tem soturno
solteiro
(e bom rapaz)
o trauma
tem urano
no chão
(com respeito devido às potências de cinco)
o trauma
tem neptuno
ali
o trauma
continua a ter
plutão
o trauma
sabe do avião
         (da malásia)
mas o trauma
não sabe
falar

Excelentíssima professora Aniki Bobó, assim dita e chamada por honras ao grande Manoel de Oliveira e em honra do surgimento de uma zona ribeirinha onírica sem signos e coisificados sexuaes na cidade do Porto e também porque a arte agora é pastiche, o trauma pede-lhe previsões e descrições sigilosas, daí as glosas e os perlimpimpins - harshtag ou duríssima identificação - ditados populares e frases feitas. A música é a única coisa em que ele me respeita, mesmo ca chica e respectivos humores. Também porque a música é uma coisa discreta, ainda mais a clássica que é doutrora. Ele nunca me mostra que abre a boca comigo e isto é o sumo de tudo. Seja para me por nomes, que não se põem a raparigas da minha beleza e com as minhas pernas, olhos atrevidos e rabiosque, seja para bocejar de me ouvir, para rir ou para interjeccionar sobre mim. Por isso o homem só em estado pos mortis adivinhado é que ia gostar dos meus poemas que ademais são anacrónicos e jovens e bons demais para pessoas inteligentes e para ele inteligente também que como os outros só é capaz de apreciar as coisas de outrora e que já têm etiqueta de qualidade e estrelas na descrição. Quando tell me cuando, cuando, cuando, a minha mãe me disse que eu tinha um sopro no coração já eu tinha tido a pior nota da turma a educação física e é por isso só que a minha mãe não há de herdar nem um tusto meu. Conheci-o num dos terrenos dos fortes, onde não há amigos. Já sabia disto e do sopro no coração mas nem isso me demoveu. Desabafei, desabafei, desabafei com ele até perder a graça. Depois esperneei por ter desabafado e ele correu da minha beira. Agora só às quartas filha, agora só às quartas. Resolvi dar-lhe uma seca dum mês a ver se se pica. Não se há de picar. Bom, o que me safa é que ele acha que também sou passadinha (e enfim) por causa da arte. Juntando a isto o facto de eu não ser nem comá chafariz, nem comá palácio da pena, nomes comuns demais para um romance, eu posso sentir-me calma e serena. Ao menos não sou comá chafariz que lhe diz que o ouve e respeita por causa da experiência. Ao menos (mais ou menos) quer dizer... Gostava de ser a chafariz quando ele me fala da palácio da pena. Só assim lhe dizia que ela é uma coisa muitíssimo equestre e que eu não tenho culpa de ter reparado nisso e talvez assim ele respeitasse a minha opinião sem usar o argumento da nacionalidade (terris, sanguis, casamentus). Não sou a pena, nem o chafariz, porque sou uma colina sensível. Ao menos serviu-me tudo isto para ter ideias geniais avec la rejeccion para petite conaça em oito capítulos. Prova A da arguida ser passadinha (enfim) por causa da arte. Como sabes, eu respeito muito ir à pena e ir ao chafariz, ainda mais porque tenho cartão estudante. Agora quando fores diz-me. A sério, peço-te que não leves a mal. Palavra de honra. Valha-me a pilinha do menino Jesus que é benta e pesa duzentas e cinquenta que é como quem diz duas cartas e meia e vinte mil beijinhos. Gosto quando cruzas as pernas e se veem as meias e não me importo quando a barba te faz parecer menos revolucionário, isto é, quando a cortas. Ai ainda bem que estão as pazes feitas. O trauma tem um buraco ou será um buraco? Talvez o trauma dê buraco. Fechemos os olhos e fechemos os dedos dos pés com força até ficarem quentes. Ahhh! Depois ao mesmo tempo abrimos os olhos e os dedos dos pé. Isto, Dona, é tocar no trauma. Mas agora fotografie isto como sendo no corpo todo em forma de arrepios ácidos e muito profundos que são cobras e lagartos (o interior) com caudas em forma de chicote. Pá, pá, pá. Mas ficamos calados e prevemos o trauma porque o trauma é uma previsão sempre, sempre, sempre, sempre eminente. 

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