sábado, 5 de abril de 2014

histórias verdadeiras

amor. diz. vem a minha casa. quero que me contes uma história verdadeira. está bem. cabelo disposto como raios de sol e os lençóis da cor do corpo. cabelo azul. a história verdadeira é que és a praia. mas uma praia diferente em que a areia é maior do que o mar. não é uma praia diferente. como não é uma praia diferente? vai buscar o peixe à cozinha. vou buscar o peixe para a cama? vais buscar o peixe para a cama. para a cama cama? para a cama minha barriga nua. porque é da cor da cama? porque é a cama. vou buscar o peixe. o chão de madeira era ainda a areia e depois é como uma mina de pedras preciosas, as bancadas multicolor. o peixe. agarrar no peixe e gritar COM PRATO? sem prato. ver os pés e ver o peixe. os passos lembram voar e nadar e ali está ela, o meu amor. porque não trouxeste um garfo? mas o que é que tu vais fazer ao peixe? nada de mal. não te estou a pedir uma coisa que a gente não use com peixe como uma garrafa. vou buscar o garfo. o que tem os dentes maiores. ia pensando se os garfos dela seriam baços ou brilhantes. quando abri a gaveta vi que os garfos dela eram brilhantes. o peixe já tinha sido pousado na barriga dela por cima do umbigo na diagonal da esquerda para a direita como se leria se estivessemos meio tortos. agora vais tirar o olho ao peixe com o garfo. e eu tiro o olho ao peixe com o garfo. agora deixas o olho cair-me no umbigo e pões o queixo no meu ventre e só olhas para o peixe e para o umbigo. eu é que te vou contar a história real. tu sempre tens de mandar em tudo. eu dou-te o dinheiro do táxi. eu não quero o dinheiro do táxi. queres magoar-me então. não. promete. prometo. sabes que as histórias são importantes para mim. e se me amas têm de ser importantes para ti. pois têm. têm. então faz isso para selar. o ventre dela era uma coisa muito forte, como o corpo dela. uma coisa que mesmo que não fosse magra era dura. conta. vá. não vou ficar a olhar para um peixe contigo a delirar. vou começar com uma pergunta. tu ficas calado porque nas histórias não há interacção. sim. sim mesmo? SIM. achas que as coisas têm um começo? AS COISAS. eu não falei em circunstâncias. eu vou começar de novo. vá. achas que as coisas têm um começo? se achas tens de achar que o peixe é maior do que o olho do peixe. na verdade o peixe e o olho do peixe são do mesmo tamanho. porque há no olho do peixe o peixe. e no peixe há olho. no peixe está olho. no olho está peixe. é esta a única coisa que explica o infinito amor. as coisas serem todas do mesmo tamanho. o universo está no meu corpo. porque o meu corpo está no universo. o estar é uma coisa essencial para o tudo. se as pessoas observassem como são não tinham escrito a bíblia. porque as pessoas nascem umas dentro das outras e não umas a seguir às outras. as pessoas são as pessoas. as pessoas estão nas pessoas. o universo é igual. não existe. é o nome que se dá ao dentro. é por isso que quando queres estar na natureza tens de pô-la dentro. tens de olhá-la. o olhar é uma espécie de chupar. tens de comer vegetais e carne. tens de os pôr cá dentro. é como tu. é por isso que a mãe natureza é mãe e não pai. foste estragar tudo. porque o ambiente estava pesado amor. estavas de boca aberta e eu já não tinha assim muita inspiração. já estás com mais sono. agora ri-me. vai fazer um gin e conta-me o teu dia. isso é uma visão catastrófica da minha vida. estás a insinuar que não me vou rir a contar o meu dia. estou a insinuar que és uma mulher que tem de estar bêbeda para descansar. amo-te.

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