terça-feira, 30 de setembro de 2014

Texto 51

O que tenho para dizer é convencer-te e foi para isto que aqui vim dizer: foi mentir-me aquilo que tenho feito. Esqueci-me de agendar que era para me despir depois de te teres ido embora da sala de jantar e fiquei ofendida porque não agendaste que tinhas de ter voltado para junto do meu corpo uns minutos depois. Posso aceitar que me perdoaste e posso perdoar que não me tenhas aceite, mas continuarei a mentir-me até me vedar de ti como te vedaste de mim durante tanto tempo que dá tempo a uma rapariga deixar de ser a rapariga para passar a ser a mãe. Hei de criar uma nossa senhora com o meu nome pois é assim que me sinto e isto é uma coisa que não costumo dizer. Só digo porque tu concordarás certamente que todos os sacrifícios individuais têm o mesmo tempo ainda que de tempos diferentes sejam. As coisas fundamentais são realíssimas e portanto só podem pertencer ao superlativo da função rigorosamente regular de sujeitamento sob o sinal físico. Assim se esbate o sinal físico para deixar de corresponder àquilo que se pensa. Aprendi a falar universalmente contigo para que não deixes queimar os ovos nos buracos em que lá terás de sentir para entender. Deste modo só te dou espaço para sentir depois de entenderes e aí já tens os ovos estrelados e podes dar-te de comer. Fatalmente, eu não vou estar à mesa. 

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

o cansaço de depois de aprender a respirar

era tão devagar que ela lhe fazia pedidos junto ao tornozelo que ele mal respondia. somos ar uns para os outros adivinhava. poucopensadamente indispensáveis. e se isto pudesse incomodar-lhe por dentro era com certeza uma impressão no estômago. mas não. isto incomodava-lhe por fora. e era uma impressão nas unhas. dizia-lhe e ele susurrava para dentro delas palavrões demorados e acrescentava que a partir de hoje sou eu quem dobra os turcos. ela ria-se e dizia que já passou já passou e pensei que morria disto. quando anoitecia e os lençóis adivinhavam-se outras coisas no escuro ela escavava naqueles terrenos húmidos e quentes e punha-se de volta do tornozelo do marido a exprimir unhadas em falso que eram só círculos pequenos fazendo dela a lua extremosa daquele monte triambíguo. ele não se mexia.

as manhãs começaram a ser pesadas como estar preso e ter que fazer e ela parecia ao marido não somente o fantasma que se ama e que connosco se confunde eternamente pélvico mas a escultura de pedra de apenas metade disso ainda na igreja a aparecer em flashes com sorrisos diferentes e aguçados da fome e da sede dos recém nascidos depois do cansaço de aprender a respirar.

numa manhã qualquer ele lembrou-se de perguntar olha lá como estás das unhas e ela disse-lhe que as unhas são a minha foz e que cada um tem a sua foz. ele sentiu uma impressão no estômago. disse-lhe. sussurava ela pela boca dele palavrões demorados e acrescentava que a partir de hoje sou eu quem dobra os sustos quando ele se mexeu e ela reparou que o que importava era estarem vivos tapados quentes e húmidos. e punha-se de fora do tornozelo do marido a exprimir unhadas em falso que eram só círculos pequenos fazendo dela a lua extremosa daquele monte triambíguo. somos ar uns para os outros adivinhava. e com impressões nos pulsos colados na hora de apanhar a uva havia no ar cheiro a medo de adivinhar coisas poucopensadamente indispensáveis.