quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

de um agitador para trás

eram as curvas agitadas das esferas do universo dispostas em cima da mesa de papel. transparentes que eram, ninguém as via. passou perto delas um senhor meio parado de rosto, mas com uma boca acastanhada e doce que nunca dizia nada. eu perguntei-lhe se as tinha visto. ele sorriu só que não, como eu já sabia antes de ter composto a voz e cachecol. era conhecidamente pouco misterioso para mim o que fazia da transparência um silêncio daqueles que não existem por fazerem parte do entendimento que há entre as vozes e os ouvidos. mas mesmo assim eu insistia em ficar atrás da mesa de papel esgotando a palma das mãos como quem mostra de graça uma placa que diz bem-vindo ou tenha a bondade e a amabilidade de olhar com carinho para o sinal de aproximam-se rotundas sentindo-se sós, precisando de si que aqui pus. houve um dia que senti nos ossos um estranho frio indefeso que me dava a cadência de uma bailarina muito talentosa mas que tinha sido despedida e eu, comecei a acarinhar um erguer de queixo irreversível sem números decimais nem dúvidas. constantemente paravam junto da mesa de papel demónios vestidos de pessoa que cheiravam a doença física das mãos e a desespero da boca. o melhor que existia delas, repousava nos meus ombros junto da caspa que ficava dos abraços e o pior cerrava-o em punhos repentinos e curtos que construía quando me sabia alistada num exército cuja luta desconhecia. tinha medo. mas não mais que força e julgamento por dizer.

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