quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Je suis Charlie

Nem era de noite. Eles não fizeram segredo.

Que sei eu da vida dos outros se os outros sabem onde guardo a minha.

Nem imaginar. Ficar aqui deitado e ver a surpresa implacável descer sobre o que já se passou.

Sozinho sou só esta limitação em percussão e sopro num destino fixo e firme. Desconfio até haver viagem, sabendo que há na chegada lugar para dormir.

Quando falo contigo sei que nos estendemos à distância um do outro e o destino fixa-se aí. Firma-se no que te digo. É esse o meu deus: o espaço que percorre a minha palavra até que ela chegue até ti. Daqui até aos teus olhos. O destino fixa-se aí. Firma-se dentro da tua lágrima.

Mataram-nos para que a tua lágrima caísse.
Esquecem-se que nós falamos sobre a tua lágrima e não sabem que tu não vais parar de ver o espaço entre nós preenchido quando o mundo dita o requiem e eu com ele sussurro para dentro da tua dor e da nova lágrima que te nasce. 

O que pode um assassino contra nós se não nos calarmos
O que pode um assassino contra nós se viver de olhos abertos
O que pode um assassino contra nós quando falamos
O que pode um assassino contra nós quando vivemos de olhos abertos.
 








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