sábado, 7 de dezembro de 2013

Àliança

Achtúpida da minh'alma está com ataques d'epilepsia.

Por causa do stresse.
Rodopia e treme.

Achtúpida da minh'alma...

Parece ca vejo.
Rod'ua cabeça.
Rodo totalment'a cabeça.
Lentamente.

A cabeça vê-mos calcanhares quando estou direita.
Abaixa-se até'ó estômago quandchtou de frente.
O pescoço nada solto nos meuz'ombros.
Sem alma! sem limites!.
Confiante!

Eu!
Eu!, maíchque nunca!

Eu!, começ'ándar
Sinto-mamaior.
Íeis que:
Vej'achtúpida da minh'alma nas pedras da calçada,
Vej'achtúpida da minh'alma na roda das pedras da calçada,
Vej'achtúpida da minh'alma na pedra que iniciós passeios,
Vej'achtúpida da minh'alma nuálcatrão,
Vej'achtúpida da minh'alma nas casas,
Vej'achtúpida da minh'alma nas caras da gente,
Achtúpida da minh'alma é
O ar!

Será que as pessoas são todas infelizes
Como parecem quand'as vemos no comboio?

As pessoas começam a abanar a cabeça
Cima até às costas.
Baixo até ao estômago.

Achpessoazóviram.
Achtúpida da minh'alma andáí
Achpalhar os meus sentimentos!

Eléctrica, achtúpida da minh'alma
Andá chocar os pintos ías pintas
Do ovinho q'eu era dantes: surpresa.

Numa sóchtensão
Tôdazas bocas deste país.
Desatam a rir - Agora!

As pessoas no comboio
Têm os lábios gretados
Não querem rir.
Não é costume rir nos comboios.

Querem falar comigo.
Ichtão muito aborrecidas.

Eu fico cheia de medo.
Começ'a meter-lhes medo, também.

Então!, eu:
Pux'a língua com ozólhos muito abertos.
Átua ao poste do comboio e desat'a correr.

Tenhozólhojmuituabertos!

Depois largo-m'í bato c'a cara no poste do comboio

Com uzólhozabertos, ainda!

Depois, a língua enrola toda.
E desata a vir'em avalanche.
Desata a vir de volta pr'á minha boca.
E eu não consigo abocanhá-la.
Também não tento muito,
Porque as pessoas riem mais.

Quanto mais riem as pessoas
Mais me metem medo.

Cort'a língua.
Tento rolar a cabeça enquanto cort'a língua:
- Ólhozabertos Carolina! (Repito alto, sem querer)
As pessoas não param de rir.

Saio.

Comigo sai mais gente.
Achtúpida da minh'alma vaichperneando.

Deita-se no tapete rolante e também ri.

As pessoas começam a pisá-la.

Dói-me.

Então, eu!: estic'o pé p'ra pisarachtúpida da minh'alma
Tento parecer'assustadora com'ás pessoas.
Não olho p'ra ninguém.

Quand'a piso
Achtúpida da minh'alma grita.
Grita que nem doida!

Paro.

Eu paro.
Mazas pessoas não.
Achtúpida da minh'alma está'aflita
Grita à força dos meus pés parados.

Eu!,chtava nochoques.
Por isso malôvia.
PZZT e sangrava dumbigo.

De repente, ceguei.

Uma das pessoas
Que estavó pé da boca dachtúpida da minh'alma

Note-se:
(A cabeça da minh'alma começava do outro lado do tapete rolante
E a pessoa estava desse lado quié maizó pé do metro
Portanto, qua'zz'a ssair)

Mandá cabeça
P'ra mim.
Depois mand'ájmãos.

Sinto dedos nozolhos.
Dói.
E começ'a ver.
Percebo que não tinha cegado.
Estava só com sono.
Agradeç'à cabeça quéra médica.

Achtúpida da minh'almenfurece-se
Transforma-se no Cristo
À cabeceira da minh'avó.

Começu'a correr no tapete.

Achtúpida da minh'alma dezatós vómitos.

As pessoas chamam-me nomes.
(Todas sujas).

As pessoas choram.

Há um senhor com pregos no sorriso
Que me quer beijar'as mãos.

Eu digo que gosto das minhas mãos.
Digo c'as minhas mãos são só minhas.
"Só as beijam quand'eu quero!"
Achtúpida da minh'alma desligá luz do Mundo.
Está d'olhos abertos.
Triste.
Chora fogo.

Também!
Dá-me penáquilo!

Estou com muito medo das pessoas.
Volt'ao tapete.
Encost'a cabeç'ós dentes da máquina.
Col'as bochechas ao chão.

E,

Digàchtúpida da minh'alma:
"Anda, volta p'ra mim
Eu não tenho mais medo.
Já percebi cuzoutros
Ficam monstros contigo.
Já percebi caté somos calminhas
Somos calminhas juntas na nossa intimidade.
Ajduas.
Volta p'ra casa.
Já percebi cassustas mais cá fora.
Anda comigo."

E então, achtúpida da minha pessoa
Entra no metro.

O Sol brilhava íum senhor vendia cães.
No metro.
Nesse dia, achtúpida da minha pessoa,
Não comprou nada
No metro.

Carolina Gramacho








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