domingo, 8 de dezembro de 2013

A gente deve estar triste pr'orar

Nunca estou preparada
Para quando m'encontro comigo.

Quando m'encontro comigo,
Começa a tocar uma música muito lenta.

Essa música é sempre demasiado triste.
Demasiado triste para que eu a compreenda.

De onde vim?
Quem foi que fez a minha alma?

Sempre uma Lua que desata a ficar cheia
E eu já não aguento olhar p'rás coisas.

Não gosto de sentir com tanta força
O frio que dá a vontade de escrever.

Não gosto de sentir tanto e tanto tempo a ânsia do manifesto
Como duas pesadas mãos negras que me amarram às coisas.

Tenho medo de sentir as minhas mãos
Logo que sinta as mãos que me amarram às coisas.

Sou infeliz quando existo.
Infeliz e meio muda.

Sei que existo só quando quero estar só.
E quando eu existo só quero que esta música me mate.

Quem me dera aguentar isto, assim como é...
Pudesse eu aguentar o fogo lento e triste desta morte fria que me quer ir queimando.

Ser mulher, forte, eu queria ser uma mulher forte...
Se eu fosse uma mulher de palavra, talvez pudesse ter tantas palavras...

Quem quer que eu seja assim?
Quem quer que isto viva a me entristecer tanto?

Querem que eu me admita uma mulher frágil.
Querem que eu diga que não quero ser só o Mar e o seu pequeno horizonte.

Querem todos que eu diga  que não aguento não gostarem tanto de mim.
Querem todos que eu diga que para gostarem de mim, como quero, deviam esquecer-se deles...

Admitir que quis ser sempre, para sempre, uma boneca mágica...
Aquela boneca mágica para quem eles costuram vestidos-universo

Aquela boneca rainha de quem eles serão servos arquitectos
Servos costureiros sempre à esperança doida, sorridente e eterna desses vestidos me servirem...

Admitir tanto e com tanta força a míngua disto que me move.
Admitir tanto e com tanta força e ficar, assim, tão triste.



Carolina Gramacho







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