terça-feira, 24 de março de 2015

todos os pais abandonam os filhos, o meu pai é pai, logo o meu pai abandonou-me

espaços de tempo sonoro. é esta a forma do acesso a qualquer coisa que seja do nosso domínio enquanto espécie. sem esta fórmula, toda e qualquer noção, mesmo que exista, é inenarrável. como se as palavras se conhecessem umas às outras e a elas próprias... quem as conhece tem saber onde estão os seus espaços de tempo vazio, reconhecê-los sonoramente e construir-lhes casas. isto é, tem de estar aberta a porta da explicação. como se nós nos conhecêssemos e conhecêssemos os outros... quem nos conhece tem de saber onde estão os nossos espaços de tempo vazio. essa noção é o espaço entre os espécimes. os espécimes não o reconhecem sonoramente e por isso não o conhecem de todo. como nós, todo o espaço de som tem só uma impressão da sua unidade. irrelevantemente, a capacidade que nos estende, construir espaços de tempo sonoro, é a capacidade que nos limita. e há de nos limitar porquê, se nem sabemos haver forma de som para o espaço de tempo que corresponda a essa limitação. a vida principia identificando unidades discretas. antes da impressão da unidade há uma impressão vaga de tudo o resto. e isto necessariamente. a voz da mãe, a voz do pai, a impressão da cama, do sol, da lua, da noite e do dia. quando alguma coisa dessa nos toca é porque já temos uma ideia vaga de unidade. aí concebemos a existência de relações. e isto necessariamente. espaços de tempo sonoro para todos os espaços de tempo narráveis e tudo está certo. a criação do interlocutor corrobora a impressão da unidade. quando um filho diz que aquele é o seu pai, há qualquer coisa na forma da fórmula de espaço de tempo sonoro que os separou. se isto fascina o cérebro, há que a ter noção de que o fascínio, o pensamento, os sonhos, as coisas, como as relações, servem para intensificar a nossa ideia de unidade. se isto nos fascina, então estamos de frente e peito aberto para uma porta fechada. uma porta inenarrável. uma porta de incompreensão que necessariamente se depreende no limite da compreensão. estamos de frente e peito aberto para a nossa orfandade. necessariamente todos os pais abandonam os filhos. a admitir outra coisa que não esta, há que admitir que podemos construir casas para os espaços de tempo que não reconhecemos sonoramente. todos os pais abandonam os filhos. 


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