quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Morfologia: é o sufixo que escolhe a base e não a base que escolhe o sufixo

entra

esta é a minha casa

quando deixei de ter cá gente deixei de cozinhar. 

ali 

no fundo da minha cabeça fica o lugar onde considero.

sinto-o quase junto à parte detrás do pescoço e vem-me diagonal até ao queixo.

consiste num mecanismóide que tem uma esfera com arames pregados ao meu maxilar

há num deles uma borracha transparente apeliculada

uma coisa muito mole que vai a ficar centralmente debaixo da minha língua 

é um arame de muita qualidade e vem de dentro 

flexível na maneira de se comportar

serve para que eu execute sem dor as minhas complexas actividades vitais 

o movimento fundamental da esfera tem o propósito de eu ser capaz de dizer ou que sim ou que não

e eu sou capaz de dizê-los sem usar a parte de dentro da boca

e nesse momento a borrachinha só me levanta os dentes de baixo para não ameaçar abri-la

isto é primariamente para que ninguém tenha medo dos meus dentes

os outros movimentos servem para eu dizer o resto 

o mundo sim o mundo

e os parafusos do mecanismo do mundo

cá dentro 

cá dentro há só uma dor de cabeça e não é sempre

não

não há pensamentos

não me é familiar achar que os pensamentos possam estar dentro da cabeça

é uma ideia que me deixa ansiosa

quando os tenho novos 

procuro sempre um sítio largo que tenha separadores de veludo 

às vezes não me importa que sejam guardanapos

olha por exemplo as pratas 

não penses que as empilho simplesmente

ponho sempre um guardanapo entre uma e outra.

parece-me lógico isto.

quando deixei de ter cá gente deixei de ter as pratas expostas.





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