entra
esta é a minha casa
ali
no fundo da minha cabeça fica o lugar onde considero.
sinto-o quase junto à parte detrás do pescoço e vem-me diagonal até ao queixo.
consiste num mecanismóide que tem uma esfera com arames pregados ao meu maxilar
há num deles uma borracha transparente apeliculada
uma coisa muito mole que vai a ficar centralmente debaixo da minha língua
é um arame de muita qualidade e vem de dentro
flexível na maneira de se comportar
serve para que eu execute sem dor as minhas complexas actividades vitais
o movimento fundamental da esfera tem o propósito de eu ser capaz de dizer ou que sim ou que não
e eu sou capaz de dizê-los sem usar a parte de dentro da boca
e nesse momento a borrachinha só me levanta os dentes de baixo para não ameaçar abri-la
isto é primariamente para que ninguém tenha medo dos meus dentes
os outros movimentos servem para eu dizer o resto
o mundo sim o mundo
e os parafusos do mecanismo do mundo
cá dentro
cá dentro há só uma dor de cabeça e não é sempre
não
não há pensamentos
não me é familiar achar que os pensamentos possam estar dentro da cabeça
é uma ideia que me deixa ansiosa
quando os tenho novos
procuro sempre um sítio largo que tenha separadores de veludo
às vezes não me importa que sejam guardanapos
olha por exemplo as pratas
não penses que as empilho simplesmente
ponho sempre um guardanapo entre uma e outra.
parece-me lógico isto.
quando deixei de ter cá gente deixei de ter as pratas expostas.
Sem comentários:
Enviar um comentário