terça-feira, 25 de novembro de 2014

Complexo de tiro RAD obrigad] - traga apenas a vogal que lhe pertence

às vezes gostava de, baixinho, narrar-te o meu corpo e a maneira como te tocariam as minhas mãos

queria palavras cheias de significados e ilustrações a óleo demoradas em vinte e dois por três

um compasso lento qualquer cheio de peso e uma cadeira para te sentares 

não posso fazê-lo porque não sei ter a distância que era preciso para que tu me contemplasses

sentava-me no teu colo e tu desatavas a achar tudo exagerado 
eu retomava os teus olhos explicando-me com muitos gestos
saía da narração do meu corpo e da maneira como te tocariam as minhas mãos
e as ilustrações continuavam a demorar em vinte e dois por três
um compasso lento qualquer indiciava-me que pensavas ter uma mulher despida em cima de ti
as palavras cheias do primeiro começo escorregavam então a custo pelos meus ombros
e tu, constrangido, punhas as mãos em cima deles para me vestir e para as agarrar
para dizer as tuas últimas que caiam com o meu nome no cartaz

carolina 
             carolina 

fica aqui

e depois de pouco tempo ias embora


as tuas mãos ficavam em cima dos meus ombros a lembrar-me que a única intimidade que havia comigo era o espetáculo

e tu nem sabias que me tinhas dito isto pelo que eu não tinha como culpar-te 
educadamente num contentamento triste eu tinha-te só agradecido

a razão era que
                         o tempo é o que mais se perde e dói perder, obrigada.


daquela cadeira e em vinte e dois por três, obrigado era a única palavra que tinham o amor e arte

como tinha sido eu a dizer era obrigada que tinha saído






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