quinta-feira, 11 de setembro de 2014

o cansaço de depois de aprender a respirar

era tão devagar que ela lhe fazia pedidos junto ao tornozelo que ele mal respondia. somos ar uns para os outros adivinhava. poucopensadamente indispensáveis. e se isto pudesse incomodar-lhe por dentro era com certeza uma impressão no estômago. mas não. isto incomodava-lhe por fora. e era uma impressão nas unhas. dizia-lhe e ele susurrava para dentro delas palavrões demorados e acrescentava que a partir de hoje sou eu quem dobra os turcos. ela ria-se e dizia que já passou já passou e pensei que morria disto. quando anoitecia e os lençóis adivinhavam-se outras coisas no escuro ela escavava naqueles terrenos húmidos e quentes e punha-se de volta do tornozelo do marido a exprimir unhadas em falso que eram só círculos pequenos fazendo dela a lua extremosa daquele monte triambíguo. ele não se mexia.

as manhãs começaram a ser pesadas como estar preso e ter que fazer e ela parecia ao marido não somente o fantasma que se ama e que connosco se confunde eternamente pélvico mas a escultura de pedra de apenas metade disso ainda na igreja a aparecer em flashes com sorrisos diferentes e aguçados da fome e da sede dos recém nascidos depois do cansaço de aprender a respirar.

numa manhã qualquer ele lembrou-se de perguntar olha lá como estás das unhas e ela disse-lhe que as unhas são a minha foz e que cada um tem a sua foz. ele sentiu uma impressão no estômago. disse-lhe. sussurava ela pela boca dele palavrões demorados e acrescentava que a partir de hoje sou eu quem dobra os sustos quando ele se mexeu e ela reparou que o que importava era estarem vivos tapados quentes e húmidos. e punha-se de fora do tornozelo do marido a exprimir unhadas em falso que eram só círculos pequenos fazendo dela a lua extremosa daquele monte triambíguo. somos ar uns para os outros adivinhava. e com impressões nos pulsos colados na hora de apanhar a uva havia no ar cheiro a medo de adivinhar coisas poucopensadamente indispensáveis.

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