terça-feira, 24 de novembro de 2015

Naquela tarde lenta em que me pediste para saltar, porque já não tinha como descer. 

Tu estavas lá em baixo, no mar. Eu sabia que não tinha como cair em cima de ti. Ninguém sabe nunca como se cai no mar. Os homens estavam a olhar para mim e, como sou mulher, não era cobarde que me chamavam. Não precisavam de me chamar. Apontavam, riam e secretamente partilhavam connosco que eu era só uma impressão de futuro para aquela hora.
As rochas do nosso país partem-se e são ainda mais amarelas quando estamos com os pés molhados.
Não me deste garantias de que cairia no sítio onde o mar guarda a gigantesca cama e eu sabia que não tinha como cair em cima de ti. Não me disseste nada. Fazias-me só um gesto com as mãos. Mas fazias como quem diz prometer que eu ia cair bem. E que mesmo que não estivesses ali, estarias perto.
Era alto e eu não soube cair. Ninguém sabe cair no mar. Quando tive forças, flutuei porque não respirava. Não me deixei afundar porque te achei culpado. É bom que saibas que os pulmões mandam muito mais que amor. Quem te disser o contrário mente.
Quando respirei fundo o suficiente para tossir, tossi e gritei muito alto contigo. Toda a gente ficou envergonhada por ti e os homens atrás de nós apontavam mais e mais. Nada disto me impediu de nadar até às escadas que a pessoas sempre fazem em precipícios como aquele. Não voltei a subir mais do que devia, nem olhei mais para o sítio onde estavas e de onde, até hoje, não sei se te mexeste. Fui-me embora. E tu ficaste, no mar, desapontado comigo.

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