quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

isto não é um inventário

o arcebispo de buenos aires morreu esta manhã.
a mesa que não tinha verniz fazia com que as coisas apodrecessem mais depressa.
o rapaz deixou lá em cima a maçã que depressa oxidou.
o mar é uma coisa imensamente bonita e bonitamente imensa.
a veracidade do imenso é questionável pelo raciocínio.

a poesia tem de ter um compasso quaternário entre versos.
existem mais de setenta por cento de iliteratos em Portugal.
as tendências são coisas que naturalmente crescem.
quando não, passa-se a chamar tendência a outra coisa.

isto não é um inventário.
é um axioma complexo.

quando o Rafael se apaixonou pela Maria e a descreveu ninguém soube quem era a Maria na fotografia.

quando a Maria foi unanimemente descoberta, o Rafael não reparou na agudeza crítica e amarelecida que descia também unanimemente pelos narizes de todos.

isto acontece: evidentemente: porque não há relações com os outros.

a haver: há no plano sentimental.
se há no plano sentimental: há no presente.
se há no presente: não existe.

o raciocínio: se exigente: não aceita o haver relações.

a música explica muito da vida.
a arte também.
tudo.
e bastante concretamente.

há sons que por serem mais fortes tapam outros.
esses outros: são mais fracos.

o amor se existir é a relação que mais tempo do dia acompanha o homem.
por uma questão de intensidade.
como nos sons.

mas ninguém ouve o som que nós estamos a ouvir.
só se o som vier de fora.
vindo de dentro: o som é nosso.
e é só isto.

isto não é um inventário.
é um axioma complexo.