terça-feira, 22 de abril de 2014

Texto para ler de testa franzida

Todávida acordei feliz. Um pouco comózanimais, eu. Um dia hei de acordar infeliz, um pouco comózómens. Todavia, esta manhã (acordei muito descansada. tinha dormido em paz, com uma almofada fria entre as pernas e bem tapada, quando abri os olhos. acordei à temperatura mais correcta de todas e, assim que vi o dia, pensei logo no que vestir. achei até que tinha de tomar o pequeno almoço fora, fora longe, fora ao sol e que tinha mesmo de ligar a música já, já) esta manhã acordei feliz, como todávida. Todavia, logo me ocorreu adiar essa felicidade que, afinal, não fazia sentido, porque há medos e porque há, sobretudo, OS medos. Os medos de ontem. Então, se já tinha lavado os dentes, se já tinha o cabelo preso para tomar duche, e se até já estava meio despida, assim fiquei. Enquanto assim ficava, ia-me arrependendo muito muito de assim ir ficando, mas não me mexia. Arrependia-me só, arrependia-me tanto... Quando olhei as horas e vi que já estavam à minha espera para almoçar, eu pensei que poderia muito bem ligar-lhes e dizer que tinha estado imensamente mal dos meus humores e ai não sei o que se passou esta manhã, comecei a ficar muito... assim... ansiosa... como se... assim mesmo...pronto. estranha. percebes? já te aconteceu? mas já estou melhor, já estou melhor (com isto ganhava, pelo menos, mais quinze minutos antes de ter de ir tomar banho, talvez exfoliar-me, por creme no corpo, por perfume, vestir uma coisa fresca, pentear o cabelo, encaracolar as pestanas e sair. tudo isto é muito custoso para uma mulher que se sente muito...assim...ansiosa... como se...assim mesmo.... pronto. estranha. mas, ao mesmo tempo, sou uma mulher que acha que no fundo mais vale ficar, assim... bonita....assim... elegante... assim... distante. e assim com aquilo que ela é, enfim... mais ao pé do coração. já que está tão... assim... estranha... triste... ansiosa. e assim, como se o medo todo a colhesse e ninguém pudesse ver o desamparo da minha pessoa, mesmo todo à mostra), mais ai depois parecia que até a minha vizinha chorava, a minha vizinha, a criança, parecia que lhe tinham batido. mas bateram-lhe? não sei. é que era um choro, assim... tão inconformado. como se saísse por entre os buracos... como se não saísse por vencer tudo e explodir. assim... ai fez-me muita impressão.... muita impressão. sabes?... é uma criança tão linda... pois eu já a vi. mas achas que devíamos fazer alguma coisa? não sei... tenho medo que se fizermos depois seja pior. ninguém sabe o que fazem às crianças nesses lares, enfim... nessas coisas para onde as levam. e mesmo as famílias têm um nome tão... tão... assim... de direita. sabes...? tão Estado Novo... tão igrejinha. parece mesmo aquele nome que há numa porta da Encarnação, no Bairro Alto. aquele nome horrível. assim... "Asilo dos Calafates - Terceira casa da sociedade da infância desvalida". entendes? "família de acolhimento" pois, pois, o melhor mesmo é não fazermos nada. eu também acho. bom também já sabes... todos levámos as nossas palmaditas não é? e depois toda a gente sabe que as crianças exageram imenso... imenso. ah sim, as crianças e as suas extravagâncias. parece ironia, mas é bem verdade. é, é... eu sei que é. então não é? A preocupação da cara dela fintava as palavras que dizia e eu ia ficando cada vez mais arrependida (olha, mas já a viste na praia? ai tem daqueles fatos de banho acolchoados! eu acho o máximo. quando eu tiver filhos eu quero ter, para os meus filhos, esses fatos de banho! sim, sim, muito giros. e o sol? olha ontem comprei estes calções novos? foi? foi. e foram caros? não, nem tanto. quer dizer não podia comprar três... tens muita graça. ai, filha, pois temos de nos agarrar a estas coisas. mas olha e como estão as coisas com o João? bem. pois, pois, que bom. mas boas mesmo? sempre vão de férias agora? em princípio, sim, sim. vai vos fazer super bem. acho que sim, estamos a precisar. pois estão. enfim... não era isso que eu queria dizer... lá está... todos os casais precisam... mas mais tu! mais tu, porque trabalhamos tanto, não é? olha, olháli tão giro o cão! olhó cão ali, tão giro! está todo feliz! acordou bem disposto, não é como eu... olha, olha que engraçado!).



sábado, 19 de abril de 2014

onde está a maria do carmo? a maria do carmo foi de férias com as amigas, consegues encontrar a maria do carmo?

num cansaço bom e também tu cansado choroso de alívio e com a cabeça muito leve, o corpo morno e as mãos suadas a apontar a luz do candeeiro olho semi-fechado barba perfeita. nem mais nem menos. aquilo era o que se sabia. aquilo era o depois de nadar muito no mar gelado e ficar deitados na sombra quente à espera de esvaziar e uma brisa que ninguém percebia mas que não dava gosto perceber. embaceia tudo menos os olhos o mar continua na lenga lenga calma de séculos. os outros ganham valor nesta altura e nós perdemos e os outros vão dando e nós ganhamos e os outros também. maria do carmo pergunta ao espelho porque se esforça tanto pela serenidade se depois de estar ali duas horas a trabalhar finalmente isto porque conseguiu e saiu da confusão dos homens todos por quem luta a lutar por ela se estraga o carregador e o trabalho morre num flash rápido absorvido pelo ecrã. chora muito de frustrada que está corre para a cozinha só para bater com o carregador no chão muititantíssimas vezes com os dentes a ver-se. maria do carmo está na cama envergonhada. pés na parede fria tapa os olhos e tem a testa franzida. la ressaca emocional. quem visse maria do carmo em casa aos saltos sempre aos saltos sempre aos saltos e quando ele entra ai e quando pensa na tamanha estupidez do cérebro dele ai e quando as gajas a chateiam e ela ri e salta e diz que são boas gajas para entreter e que a deviam ter chateado antes para o alívio ou seja antes de ele entrar e de se terem chateado mais uma vez como de resto se chateiam sempre. não há nada a fazer sobre esta relação que tantas vezes é assim chamada sem existir. um dia vinha no carro com o meu pai que é uma coisa que me acalma ir no carro com a janela meio aberta ao lado do meu pai a pensar embalada numa força que sugo com amor e carinho enquanto o meu nome me passava pela cabeça e pela cabeça passava eu a gritar o meu nome e passava eu a pensar num senhor que tinha dito à minha avó que o meu nome era o nome mais lindo que há. imaginava o senhor a dizer o nome e a dizer que o nome era o nome mais lindo que há. de repente penso em mim e puff não tinha nome. como já não tinha assunto nenhum para falar com o vasco resolvi propôr-lhe chamar-lhe frederico para experiências literárias. aceitou. perguntou. respondi e aceitou. depois aquilo começou a frustrar-me imenso porque antes de tudo isto havia uma rapariga na primária que não gostava de mim e então dizia sempre o meu nome: entããão veróóniicaa! tás boa?: a resolução que tirei disto foi que dizer o nome era uma coisa de quem tinha sentimentos fortes. ele quase nunca dizia o meu nome nem o nome que inventei e aquilo frustrou-me a confiança e ardi ali. agora és vasco para sempre. isto é agora és coisa nenhuma. mil pensamentos sobre o meu aniversário e penso se vale mesmo a pena o trabalho só porque acho que vou estar muito bonita. provavelmente não. mas quando é que eu terei outra oportunidade de me fingir de bêbeda tão convincentemente para finalmente eu e ele deixarmos de discutir e resolvermos tudo isto que não passa de uma relação com o nome de relação e por isso coisa nenhuma em bruto. outras oportunidades para estar bêbeda não será bem assim. outras oportunidades para estar bêbeda bonita e ter aquele lindo ar de feto que deixa os outros escravos da minha vontade. só para o ano. se isto estiver tão dramático como está hoje para o ano posso bem esquecer. esquecer pensar na hipótese de dúvidar em relação a uma assumpção bem dita. até lá vou vendo filmes e lendo livros com os poros todos abertos a la recolha e inventariação de une bonne proposta irrecusável que não é coisa de mulher fazer declaração de amor. penso nisto e penso que devia militar mais o feminismo. depois penso que quem vai às convenções é o outro triste que pré-vende as coisas como quem pré-vende laranjas à beira-da-estrada comparação justa porque a haver uma laranjeira à beira-da-estrada era ele que é mais laranjeira do que poeta quantas vezes. pai hoje consegui não ter um ataque de pânico. ele passou por mim e sorriu como diz a outra. nisto penso na maria do carmo e se hei de pegar nela ao colo e embalá-la com o meu corpo de gigante e a maria do carmo tão envergonhada e com a cabeça tonta a vibrar. vê-se a cabeça da maria do carmo a vibrar se estivermos longe. depois penso na obsessão que tinha há dias de fazer as coisas desaparecer na escrita como se faz nos filmes. uma coisa assim: ia a joana a andar a andar a andar e as flores ali estavam e a joana a andar a andar a andar a andar a andar a andar a andar a andar a andar a andar e nisto o leitor esquecia-se da joana. depois de mil pastas de escrever compradas com o título ensaios de desaparecimento I, II, III, IV, V e etc. esqueci-me disso até que li Balzac e pensei o gajo faz aparecer e eu talvez não saiba e então como estamos e o queque é melhor. Hoje descobri como fazer desaparecer.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

wolfgang ama deus mozart sinfonia número 25 em dó maior

cadeira ao fundo da estrada molhadá vagabunda de perna aberta e doirada delira assim meio encostada cós dedos cruzados ca boca revirada. tem cinco dentes tem cinco dentes e é velha mais velha ca velha mais velha que tu conheces. passam os carros passam os carros de seguida passam os carros e batem na velha e a velha erguida de perna aberta e doirada delira assim meio encostada cós dedos cruzados ca boca revirada. os cinco dentes da velha vão parecendo seis e quatro mas são cinco. a velha não fala a velha não canta a velha respira e queima respira e queima respira e queima comós carros comás máquinas também a velha pode explodir. comós carros comás máquinas também a velha pode explodir e a velha não se importa comós carros comás máquinas. por baixo da cadeira da velha ao fundo da estrada molhadá amor e bunda desleixada chora de rejeitada e está acamada numa treva demolhada que cheirá bacalhau. tem pestanas falsas e é moribunda e nova mais nova ca moribunda mais nova que conheces. passam os carros passam os carros de seguida passam os carros e batem na nova moribunda com pride cumprida com pestanas falsas amor e bunda desleixada chora de rejeitada e está acamada numa treva demolhada que cheirá bacalhau. as pestanas !falsas! ora estão coladas na testa ora vão parecendo coladas na testa mas elas estão coladas na testa. jovem moribunda não fala jovem moribunda não canta respira e destila respira e destila respira e destila comós vinhos comós mantras também a jovem moribunda pode explodir e a jovem moribunda não se importa comós vinhos comós mantras. no fundo no fundo as flores mais flores são as rosas muitas rosas de várias cores espalhadas pelo mundo que é calmo e circunstancial como uma burra teimosinha e forte teimosinha e forte e forte e forte ca força é o bigode do rochedo que não se dobró vento nem à mchtura. a força essa força essa força só a vi na minha avó essa força que abala tudo e nada vence sem cair essa força desgraçada essa força cabra cega e solta irada enamorada numa primavera mais quente que a coisa mais quente que há. força força força leão lince macho grande grande macho sangue meu meu sangue. amén. podeis comer irmãos. podemos comer.

terça-feira, 15 de abril de 2014

la calma es una cosa de después que se quiere muchísimo en todos los ahoras fuertes

as janelas estão fechadas e a falta de cor é a cor da casa caminhando em cima do mar leve oscila oscila vibrando. as crianças não riem nem choram. as crianças não riem nem choram. as crianças fazem o que vem depois de rir e o que vem depois de chorar ao mesmo tempo ao mesmo tempo (e) sente-se no ar no ar que vai para cima uma cor chamada alívio cinzenta clara uma cor chamada alívio cinzenta clara sai dos narizes das crianças e dos cantos dos olhos e entra-lhes pela boquinha babada e semiaberta numa pausa muito comovente quando suspiraram em colcheias. são duas crianças e um espelho partido. uma das crianças tem um espaço que vai desde o olho ao ouvido e corta-lhe a bochecha. será vidro? não há nenhuma chance não há nenhuma chance e sabe bem não haver chance nenhuma e sabe bem não haver chance. o búzio faz o barulho de lá fora no sítio certo que é em cima da cadeira e deixa as crianças confiarem no frio distante e belo de lá fora confiarem no frio distante e belo de la fora das coisas que se montam das coisas que se montam e que são respostas por estarem montadas. dança dança dança dança dança a bonequinha que gira os flocos de neve azuis claros que caem da bola de vidro grosso e esverdeada olho de pirata mau mas que ninguém conhece. toca toca toca toca a música que também canta e canta assim: u mumentu dji cauma é estárr nu pácífico djipois dji terr pérdjidu á áuma nu précépíciu qui si chamá enórmi gálopi dá luá cáindo dais máguais da sinhora máneu. tátárárá máneu mãe dji sangui. lálá máneu não tem leitxi i embála embála djipois dji quási matárr. tárárátá é ái qui si ama beim. djipois dji quási matárr. por baixo do chão tenho a certeza que existe uma estrela espraiada que aquece sem arrefecer ou ferver que aquece sem arrefecer ou ferver uma cama que não existe mas que é mais cama do que as outras camas mas que é mais cama do que as outras camas porque é cama além e aquém de ser cama. mais cama do que as outras camas porque é cama em todo o lado. estará a criança sozinha? não se sabe mas adivinha-se que não porque alguém a deitou ali alguém pode ter fugido quem foge não deixa: fode: fode fode balão fode vai foder àquela estrela àquela estrela que independentemente de eu fugir de tu fugires de ele fugir de nós fugirmos de vós fugirdes de eles fugirem está ali ali ali ali espraiada e ninguém toca no que se espraia porque não alcança e o corpo não é uma estrela do céu e o corpo é uma estrela do mar esticado porque as estrelas do céu não têm cinco pontas são quanto muito potências de cinco, ninguém sabe de que número são o número das potências das pontas das as estrelas do céu e talvez a única estrela com definição seja a estrela do mar e a estrela que o corpo faz e que na areia vai-vem faz anjinho. o balanço é um mistério das entrelinhas das linhas das mãos do mundo que é forte e ninguém duvida da força do mundo porque toda a gente já viu que enterrar a cabeça no mar mata enterrar a cabeça na terra mata enterrar a cabeça no fogo mata e enterrar a cabeça no céu é morrer.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Miau é mi mais au

Bichinho abre lentamente os teus olhos que têm mais do que uma cor e diz-me numa cor só de que cor são os teus olhos. Depende da luz, respondes-me. Uma cor assim meio volátil e meio transparente e insegura como tu, bichinha. Dá-me graça quando és assim respondão. Miau. Miau? Mi-au. Trampolim das minhas iras assim tão alheio à desgraça do arquear das minhas sobrancelhas meu maldito. Mi-au. Agora vira-te para o outro lado e concentra-te nas madeixas do meu cabelo a escorregar pelas tuas costas depois de prendermos a cama à parede e de te prendermos a ti à cama e diz-me o que tens cá dentro. Mi-au. Tu és tão impulsiva. Cala-te. Não temos tempo para dissertar sobre isso, estamos a fazer uma experiência e sou eu que mando. Mi-au. Pssssspssssspsssss. Bichinha estás a arrepiar o bichinho. Bichinho concentre-se nas expectativas. Quantos planetas tem o sistema solar. Um: tu. Um tu é uma cacofonia bichinho. Três tus. Outra. Uma brilhante tu. Tetu? Uma sonora tu. Por amor de Deus, bichinho, como podes deixar-me tão insatisfeita? Tu estás à espera que eu adivinhe a merda que tu tens na cabeça. Bichinho abre lentamente a boca que já tem dentes do siso e diz-me de cor quantos dentes tens. Depende do distúrbio mental. Um distúrbio mental assim como o teu bichinha responderia que te tenho a ti na boca. Que no quepo cariño. Achas-te demasiado boa bichinha. Morremos porque estávamos a dizer o mesmo e bichinho era surdo à voz de bichinho e ouvia demasiado bem a voz de bichina. Mi-au. E bichinho caiu.

domingo, 13 de abril de 2014

carta astral do trauma injustificada por tanto ser descritiva (deve ler-se muito devagar frase por frase em compasso quaternário para suspense e previsibilidade casamentos dois do trauma pois que é universal e nunca foi planetariado como se sabe   em relação à leitura dos parênteses pede-se ao admirável leitor apenas um pouco de senso óptimo)

o trauma
tem o sol
num buraco lunar
        (em que é de noite quaise sempre)
o trauma
tem a lua
ensimesmada
o trauma
tem mercúrio
nos quarenta
       (que é dizer com sarampo)
o trauma
tem venas
salientes nas pernas
               (venas tipo varizes)
o trauma
tem terra
ao vento e no triângulo das bermudas
o trauma
tem mártires
muitos
o trauma
tem de Júpiter
só o filho anão e mesmo assim mal lhe cabe no coração
                                                                            (que é onde o tem o trauma)
o trauma
tem soturno
solteiro
(e bom rapaz)
o trauma
tem urano
no chão
(com respeito devido às potências de cinco)
o trauma
tem neptuno
ali
o trauma
continua a ter
plutão
o trauma
sabe do avião
         (da malásia)
mas o trauma
não sabe
falar

Excelentíssima professora Aniki Bobó, assim dita e chamada por honras ao grande Manoel de Oliveira e em honra do surgimento de uma zona ribeirinha onírica sem signos e coisificados sexuaes na cidade do Porto e também porque a arte agora é pastiche, o trauma pede-lhe previsões e descrições sigilosas, daí as glosas e os perlimpimpins - harshtag ou duríssima identificação - ditados populares e frases feitas. A música é a única coisa em que ele me respeita, mesmo ca chica e respectivos humores. Também porque a música é uma coisa discreta, ainda mais a clássica que é doutrora. Ele nunca me mostra que abre a boca comigo e isto é o sumo de tudo. Seja para me por nomes, que não se põem a raparigas da minha beleza e com as minhas pernas, olhos atrevidos e rabiosque, seja para bocejar de me ouvir, para rir ou para interjeccionar sobre mim. Por isso o homem só em estado pos mortis adivinhado é que ia gostar dos meus poemas que ademais são anacrónicos e jovens e bons demais para pessoas inteligentes e para ele inteligente também que como os outros só é capaz de apreciar as coisas de outrora e que já têm etiqueta de qualidade e estrelas na descrição. Quando tell me cuando, cuando, cuando, a minha mãe me disse que eu tinha um sopro no coração já eu tinha tido a pior nota da turma a educação física e é por isso só que a minha mãe não há de herdar nem um tusto meu. Conheci-o num dos terrenos dos fortes, onde não há amigos. Já sabia disto e do sopro no coração mas nem isso me demoveu. Desabafei, desabafei, desabafei com ele até perder a graça. Depois esperneei por ter desabafado e ele correu da minha beira. Agora só às quartas filha, agora só às quartas. Resolvi dar-lhe uma seca dum mês a ver se se pica. Não se há de picar. Bom, o que me safa é que ele acha que também sou passadinha (e enfim) por causa da arte. Juntando a isto o facto de eu não ser nem comá chafariz, nem comá palácio da pena, nomes comuns demais para um romance, eu posso sentir-me calma e serena. Ao menos não sou comá chafariz que lhe diz que o ouve e respeita por causa da experiência. Ao menos (mais ou menos) quer dizer... Gostava de ser a chafariz quando ele me fala da palácio da pena. Só assim lhe dizia que ela é uma coisa muitíssimo equestre e que eu não tenho culpa de ter reparado nisso e talvez assim ele respeitasse a minha opinião sem usar o argumento da nacionalidade (terris, sanguis, casamentus). Não sou a pena, nem o chafariz, porque sou uma colina sensível. Ao menos serviu-me tudo isto para ter ideias geniais avec la rejeccion para petite conaça em oito capítulos. Prova A da arguida ser passadinha (enfim) por causa da arte. Como sabes, eu respeito muito ir à pena e ir ao chafariz, ainda mais porque tenho cartão estudante. Agora quando fores diz-me. A sério, peço-te que não leves a mal. Palavra de honra. Valha-me a pilinha do menino Jesus que é benta e pesa duzentas e cinquenta que é como quem diz duas cartas e meia e vinte mil beijinhos. Gosto quando cruzas as pernas e se veem as meias e não me importo quando a barba te faz parecer menos revolucionário, isto é, quando a cortas. Ai ainda bem que estão as pazes feitas. O trauma tem um buraco ou será um buraco? Talvez o trauma dê buraco. Fechemos os olhos e fechemos os dedos dos pés com força até ficarem quentes. Ahhh! Depois ao mesmo tempo abrimos os olhos e os dedos dos pé. Isto, Dona, é tocar no trauma. Mas agora fotografie isto como sendo no corpo todo em forma de arrepios ácidos e muito profundos que são cobras e lagartos (o interior) com caudas em forma de chicote. Pá, pá, pá. Mas ficamos calados e prevemos o trauma porque o trauma é uma previsão sempre, sempre, sempre, sempre eminente. 

segunda-feira, 7 de abril de 2014

posso-te quero-te mando-te

és muito bonita. és linda. tudo em ti está certo. tudo em ti tem a forma e o tamanho bom. em cada canto do teu corpo posso aceitar desfazer-me de tudo aquilo em que acredito. festas no rosto dela quente. assim deitada. com a pele e o cabelo estrelas morenas. as mãos no rosto dele a sentir curiosa a barba. sorri. estou tão sereno só por causa disto meu amor. de onde vem esse brilho todo tão suficiente para cobrir a noite mais fria. é um brilho bom esse teu. e é a beleza amor. és tão linda. olhar para ti alarga a alma ao tamanho justo. olhar para ti ensina a viver. queres falar? não. levantas me. tocas o pescoço e o meio das costas e eu saio de estar assim deitada. com a pele e o cabelo estrelas morenas. as mãos no rosto dele a sentir curiosa a barba. abraço-me a ti. para onde queres ir? escolhe tu. e ele devolve-me à cama assim deitada. à mostra. à mercê do entusiasmo das almas que alargam ao tamanho justo e que ensinam a viver. continuas com o mesmo brilho. nunca vai mudar. és tão bonita.

domingo, 6 de abril de 2014

afasia

quanto será espalhado o muito faminto das minhas mãos
que dor sufocar por ser tão meu mole maciço maior
quanta força terá a consciência magnética da posse
a côr do medo tendo mais brilho que o tamanho
quanta fome me separa da pele elástica de merecer
as coisas pequeninas as coisas gigantes melhoradas ao esplendor
quanta ânsia me falta para ficar com um buraco no pescoço e sem boca acima do queixo
as circunstâncias futuras arranjadas em forma de abanico mas tão longe
que parte de mim é o fôlego quando desejo um lanche de infinito
vejo as linhas das minhas mãos espalhadas a unir as constelações de nomes bonitos
quanto sangue quanto sal é preciso para alimentar o norte que não me quer
os sabores dos meus sangues todos na vertingem dos caudais lá da serra
qual mar, qual terra enfraquecida, que céu nervoso é que anda doido para me beijar?   

sábado, 5 de abril de 2014

histórias verdadeiras

amor. diz. vem a minha casa. quero que me contes uma história verdadeira. está bem. cabelo disposto como raios de sol e os lençóis da cor do corpo. cabelo azul. a história verdadeira é que és a praia. mas uma praia diferente em que a areia é maior do que o mar. não é uma praia diferente. como não é uma praia diferente? vai buscar o peixe à cozinha. vou buscar o peixe para a cama? vais buscar o peixe para a cama. para a cama cama? para a cama minha barriga nua. porque é da cor da cama? porque é a cama. vou buscar o peixe. o chão de madeira era ainda a areia e depois é como uma mina de pedras preciosas, as bancadas multicolor. o peixe. agarrar no peixe e gritar COM PRATO? sem prato. ver os pés e ver o peixe. os passos lembram voar e nadar e ali está ela, o meu amor. porque não trouxeste um garfo? mas o que é que tu vais fazer ao peixe? nada de mal. não te estou a pedir uma coisa que a gente não use com peixe como uma garrafa. vou buscar o garfo. o que tem os dentes maiores. ia pensando se os garfos dela seriam baços ou brilhantes. quando abri a gaveta vi que os garfos dela eram brilhantes. o peixe já tinha sido pousado na barriga dela por cima do umbigo na diagonal da esquerda para a direita como se leria se estivessemos meio tortos. agora vais tirar o olho ao peixe com o garfo. e eu tiro o olho ao peixe com o garfo. agora deixas o olho cair-me no umbigo e pões o queixo no meu ventre e só olhas para o peixe e para o umbigo. eu é que te vou contar a história real. tu sempre tens de mandar em tudo. eu dou-te o dinheiro do táxi. eu não quero o dinheiro do táxi. queres magoar-me então. não. promete. prometo. sabes que as histórias são importantes para mim. e se me amas têm de ser importantes para ti. pois têm. têm. então faz isso para selar. o ventre dela era uma coisa muito forte, como o corpo dela. uma coisa que mesmo que não fosse magra era dura. conta. vá. não vou ficar a olhar para um peixe contigo a delirar. vou começar com uma pergunta. tu ficas calado porque nas histórias não há interacção. sim. sim mesmo? SIM. achas que as coisas têm um começo? AS COISAS. eu não falei em circunstâncias. eu vou começar de novo. vá. achas que as coisas têm um começo? se achas tens de achar que o peixe é maior do que o olho do peixe. na verdade o peixe e o olho do peixe são do mesmo tamanho. porque há no olho do peixe o peixe. e no peixe há olho. no peixe está olho. no olho está peixe. é esta a única coisa que explica o infinito amor. as coisas serem todas do mesmo tamanho. o universo está no meu corpo. porque o meu corpo está no universo. o estar é uma coisa essencial para o tudo. se as pessoas observassem como são não tinham escrito a bíblia. porque as pessoas nascem umas dentro das outras e não umas a seguir às outras. as pessoas são as pessoas. as pessoas estão nas pessoas. o universo é igual. não existe. é o nome que se dá ao dentro. é por isso que quando queres estar na natureza tens de pô-la dentro. tens de olhá-la. o olhar é uma espécie de chupar. tens de comer vegetais e carne. tens de os pôr cá dentro. é como tu. é por isso que a mãe natureza é mãe e não pai. foste estragar tudo. porque o ambiente estava pesado amor. estavas de boca aberta e eu já não tinha assim muita inspiração. já estás com mais sono. agora ri-me. vai fazer um gin e conta-me o teu dia. isso é uma visão catastrófica da minha vida. estás a insinuar que não me vou rir a contar o meu dia. estou a insinuar que és uma mulher que tem de estar bêbeda para descansar. amo-te.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Mito do Comum (orado)

A dificuldade de tudo isto são as decisões com alma que temos com força. As decisões com alma no cadáver esquisito que é a nossa vida. As decisões com força porque nascer é menos que isso.

A verdade de tudo isto é que a nossa vida nada tem colectiva. A nossa vida não pode ser um cadávere esquisito. Longinquamente, no formato original, cada um de nós vai preenchendo com alma e força cadáveres esquisitos. 

A nossa vida é um diálogo órfão sem noção do quanto dói não nos cumprirmos mamíferos em todas as idades. 

Nem a ilusão de que construímos o outro pode ser certa. Tem só um certo grau de justiça. E até essa é um cadáver esquisito que preenchemos com a nossa alma e a nossa força. 

A nossa alma, que é tão igual à do outro, mas que nunca lhe toca. 

A nossa força, que é tão igual à do outro, mas que não o puxa.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

coração bucal


a pessoa sou eu. não tu. no teu mundo eu pertenço aos pretos ou aos brancos? só posso pertencer aos pretos já que tu achas que eu não sou a pessoa. deixa estar que se eu não for tu também não és. fica sabendo que esse branco que tu admiras na branca só tem na verdade como símbolo único o branco. e o branco é como toda a gente sabe a extensão padronal do nada. o branco é o nada deitado e levantado muitas vezes e muito colado de cada vez que se levanta e que se deita. portanto mesmo que tu me aches preta eu não me importo. agora se fosse eu a achar-me preta já era diferente. mas não é porque o branco pode significar outra coisa. ficas a saber que a mim não me afecta o outro significado do branco porque sou séria E CREIO EM DEUS ÚNICO e se há coisa que me governa é isso. só era diferente porque como de cada vez que vou falar contigo mesmo sem me puxares eu digo e digo e digo como um ser quase morto que só pode esperar da vida aquele momento. E DIZÊ-LO todo como se a linguística fosse o espelho do tempo que vai passando. É LÓGICO que tu saberias que eu me achava preta e assim pensávamos os dois que eu era preta e não tu sozinho. podias tu ter pena de mim em relação a eu ser preta e assim sou eu a ter pena de ti e a pô-lo por escrito mostrando-te que não percebes que ser preto é muito melhor e que eu sou a pessoa por relação semântica suja a tua branca que nem passadeira e quem põe o preto no branco sou eu e que posso pô-lo e dispô-lo sem ti mais a merda da branca. agora se não me amas isso já é outra questão.